O Caminho de Santiago não é apenas uma rota de peregrinação. Mais do que isso, é uma viagem carregada de simbolismo e mistério que tem as suas raízes na mitologia antiga dos povos que habitaram a Península Ibérica antes da chegada do cristianismo.
A presença da mitologia celta é especialmente notável nas regiões do norte de Espanha. Aqui, lendas e crenças ancestrais sobre a natureza e a espiritualidade dos celtas continuam a ressoar nos lugares e tradições que os peregrinos encontram na sua viagem.
Neste artigo, exploraremos como a mitologia celta influenciou o Caminho de Santiago e o seu simbolismo. Apresentaremos alguns dos lugares carregados de misticismo celta que acompanham os peregrinos na sua jornada para Santiago e além.
Índice de contenidos
Origem celta do Caminho de Santiago
Desde a Mundiplus, queremos dar-te toda a informação sobre o Caminho de Santiago possível. Embora hoje em dia seja reconhecido como uma peregrinação cristã até ao túmulo do apóstolo Santiago, existem teorias que apontam que tem origens muito mais antigas.
Antes da chegada do cristianismo, as tribos celtas que habitavam a região noroeste da Península tinham fortes crenças espirituais ligadas à natureza e a certos pontos geográficos que consideravam sagrados.
Por exemplo, a área que rodeia Finisterra, era para eles o “fim da Terra”, um local onde o mundo físico tocava o além. Este vínculo entre a mitologia celta e a peregrinação até ao fim do mundo físico inspirou o traçado de rotas que, embora mais tarde tenham sido adaptadas como caminhos cristãos, mantêm na sua essência o respeito e a fascinação pela natureza e pela espiritualidade.
Dessa forma, pode-se dizer que o Caminho de Santiago Primitivo completo, assim como outras rotas, alberga vestígios desta conexão entre a espiritualidade e a mitologia celta.
Lugares do Caminho de Santiago com influência celta
Ao longo do Caminho de Santiago, existem locais com uma marcada influência celta que oferecem aos peregrinos uma ligação direta com esta antiga cultura. Estes pontos de interesse não apenas revelam vestígios da mitologia celta, mas também enriquecem a experiência espiritual do Caminho.
Finisterra e o caminho até ao fim do mundo
Atualmente, muitos peregrinos optam por continuar a sua rota até Finisterra após chegar a Santiago. O objetivo é procurar essa mesma ligação com o mar e o simbolismo de um fim que é um novo começo.
Finisterra torna-se uma extensão da viagem espiritual, carregada de simbolismo, alimentada pela mitologia no Caminho até Finisterra. E é que, como já referimos, esta rota é o local que os romanos chamaram “fim da Terra”, mas anteriormente para os celtas foi um ponto de importância espiritual.
Monte do Gozo
O Monte do Gozo é um dos pontos de chegada mais aguardados pelos peregrinos, pois é o local de onde podem ver pela primeira vez as torres da Catedral de Santiago. Embora atualmente seja conhecido pela sua relevância cristã, também tem uma conexão com o passado celta, uma vez que o conceito de “chegada” e “revelação” está presente em muitas crenças celtas.
Este lugar pode ser interpretado como um local de transformação e renascimento, algo que se encaixa com o simbolismo celta dos montes como pontos de ligação entre os mundos espiritual e terrenal.
Outros pontos de interesse com raízes celtas na Galiza
Existem outros locais na Galiza que se destacam pela sua ligação com a cultura celta, como o Monte Pindo e o Cabo Ortegal.
- O Monte Pindo, conhecido como o “Olimpo Celta,” está repleto de lendas e simbolismo. Este monte tem sido um local de culto desde tempos remotos e guarda mitos sobre deidades protetoras e criaturas mágicas.
- Por outro lado, o Cabo Ortegal é um dos pontos mais a norte da Galiza. Também era considerado um local especial na mitologia celta devido à sua localização e ao encontro entre o mar e a terra.
Elementos da mitologia celta presentes no Caminho
A influência da mitologia celta manifesta-se em vários aspectos do Caminho de Santiago: desde as lendas que envolvem certos locais até aos símbolos e monumentos que recordam as crenças dos antigos povos celtas.
Sim, existem elementos que destacam a presença da mitologia no Caminho Francês, assim como outros detalhes significativos que enriquecem a experiência do peregrino.
A figura dos druidas e os antigos peregrinos
Na mitologia celta, os druidas eram figuras sagradas que atuavam como intermediários entre o mundo terrenal e o espiritual. A sua ligação com a natureza e o seu conhecimento dos ciclos da vida e da morte tornavam-nos líderes espirituais.
De certa forma, os primeiros peregrinos, que percorriam os caminhos até Finisterra muito antes da consolidação do culto a Santiago, refletiam esta viagem de transformação espiritual.
O culto à natureza
A mitologia celta concedia à natureza um papel sagrado, e muitos dos lugares que os peregrinos atravessam mantêm essa mesma sacralidade. Rios, montanhas e florestas eram essenciais nas crenças celtas.
Existem histórias do Caminho Inglês que relatam como o ambiente natural e certos rituais permitiam aos celtas encontrar equilíbrio e espiritualidade.
O significado das estrelas e o caminho das Estrelas
Outra das teorias mais interessantes sobre o Caminho de Santiago é a sua ligação com a Via Láctea, conhecida na antiguidade como o “Caminho das Estrelas.” Para os celtas, as estrelas também tinham um papel crucial na sua cosmovisão.
A Via Láctea era vista como um caminho para o além, uma senda de transformação espiritual que refletia a importância da natureza e do cosmos na sua mitologia.
Existem detalhes sobre o Caminho Inglês que falam de lendas que evocam o respeito pelas estrelas e o poder transformador da viagem, recordando aos peregrinos o caráter sagrado do seu percurso. Esta união entre o céu e a terra enriquece a experiência do Caminho, fazendo com que as antigas crenças celtas continuem vivas através dos passos de quem percorre as rotas hoje em dia.
Personagens mitológicos celtas e o seu legado no Caminho
A mitologia celta está repleta de figuras que encarnam a ligação entre o ser humano e o mundo natural. Muitas destas figuras continuam presentes na cultura galega e nas tradições que os peregrinos encontram no seu percurso pelo Caminho de Santiago.
A deusa Deva e outras divindades celtas
Deva era a deusa das águas e dos rios, e o seu culto estendia-se pelas terras galegas. Em muitos pontos do Caminho, os peregrinos atravessam rios e fontes que são considerados sagrados e que têm uma ligação com divindades antigas como Deva. Esta ligação com a água e o seu poder purificador oferece aos peregrinos um espaço de reflexão e renovação no seu percurso.
Lendas de criaturas mágicas
Diz-se que os mouros são seres sobrenaturais que habitavam em castros e montanhas, guardando tesouros e segredos. Para alguns peregrinos, estas histórias sobre criaturas e seres mágicos acrescentam um elemento de mistério e encanto ao Caminho, convidando-os a conectar-se com a mitologia celta de uma forma única.
Compreender o legado celta e a importância da natureza e dos lugares sagrados permite aos peregrinos conectar de uma forma mais profunda com a sua viagem. O Caminho de Santiago não é apenas uma rota, é um portal para um passado cheio de misticismo, crenças ancestrais e uma visão espiritual do mundo que continua a ser relevante nos dias de hoje.